19 de jan. de 2011

O SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO- Parte 1de3

Inicialmente a minha intenção era de fazer um resumo desta serie de textos que agora posto aqui no Blog sobre o submarino nacional, mas depois de uma reflexão mais aprofundada decidi e constatei que seria um erro de minha parte faze-lo, pois poderia causar desvios da idéia principal expressa ou interpretações pessoais que poderiam fugir do contexto do autor destes textos.

Assim decidi posta-los aqui no Blog de forma integral e sem modificações ou interpretações pessoais de nenhum tipo, coisa que parece-me justa ao Senhor Capitão de Mar e Guerra Sérgio Lima Guaranys e à idéia que queria passar com estes excelentes escritos.

Dividi a analise do Capitao em 3 textos... gusta-te-los a fundo, pois são fonte profunda de informação sobre submarinos e sobre os nossos submarinos nucleares em particular.

 Autor: SÉRGIO LIMA YPIRANGA DOS GUARANYS*
Capitão de Mar e Guerra (Refo)

SUMÁRIO

Introdução
O navio
Submarino
Submarinista
Energia
Emprego
Configuração do submarino nuclear
Equação condicionante – reator e variáveis
Tamanho
Potência
Carga
Equação condicionada – Casco e externos
Equação intermédia – Elementos internos
Armas
Mecanismos
Vida
Controle
Equação conclusiva – Operação
Operações defensivas
Operações ofensivas
Integração
Conclusão
Configuração desejável do submarino nuclear brasileiro
Configuração viável do submarino nuclear brasileiro

 

INTRODUÇÃO

Este trabalho trata o submarino como arma formidável. Descreve o
submarinista pelas conexões dele com cada peculiaridade do submarino.
Explica processos mentais do submarinista, enfatizando a reserva de
energia que preserva a essência de o submarino estar escondido.
Esclarecidos esses tópicos em submarinos convencionais, destaca o que
distingue deles o nuclear: ter e usar velocidade inesgotável.
Apresenta o problema do tema escolhido, submarino nuclear brasileiro
(SNB), como um sistema de equações, em que a condicionante é o reator,
com as variáveis tamanho, potência e carga. A equação condicionada é o
casco, com seus equipamentos externos. A equação intermediária trata
dos equipamentos internos. A equação conclusiva é a operação do SNB
com as variáveis de assédio mundial, tiros reais e uso internacional
do mar. Conclui descrevendo o arranjo acessível hoje, a data mais
próxima de execução e as mudanças na formação do pessoal da Marinha do
Brasil (MB) em todos os níveis e fases da carreira que dariam acesso
ao arranjo ideal. Não há no texto dados sigilosos.

O NAVIO

Submarino


Contemplando uma extensão de mar e céu, ninguém pode dizer se há
naquele mar algum submarino, se há mais de um e, caso haja, o que
transportam, aonde vão, que pretendem e onde estão. Se algum submarino
presente ali estava sendo seguido desde instante anterior em que
alguma dessas indagações estava respondida, estão cegas as demais, a
presença dele é sabida, mas, sem estar localizado, está escondido.
A essência do submarino é possuir a faculdade de esconder-se de
qualquer detecção, seja mecânica, ótica, acústica, térmica, magnética
ou outras ações físicas. Não basta que ninguém esteja varrendo a
extensão, é preciso que ele mesmo não esteja emitindo ações
detectáveis ou que as perceba e use obstáculos eficazes contra a
percepção hostil dessas ações. Há um volume de água em torno dele que
define a essência de estar escondido, de não ser percebido por ninguém
de fora do volume, o volume indiscreto. Se o volume indiscreto de um
submarino for menor que o de outro, perceberá o de volume maior antes
de ser percebido. Poderá destruí-lo sem despertá-lo.
Quanto mais discreto for um submarino em cada manifestação física
(calor, som, luz, campo elétrico etc.), maior será esse volume. Ao
perceber a aproximação de outro combatente que esteja fora desse
volume, mover-se-á para impedir a penetração dele, que desfaz o
esconderijo. Se não perceber, viola a essência de ser submarino –
parece, mas deixou de ser submarino.
Então, o tamanho do volume determina o espaço externo em que aquele
navio conserva a qualidade de ser submarino e, por oposição, o espaço
dentro do qual perde essa qualidade. As manifestações físicas do
submarino têm sinal simétrico das percepções delas – quanto mais
discreto numa, melhor a sente no entorno, quanto mais silencioso,
melhor escuta: o mais apto detector de um submarino é outro submarino.
Nossos submarinos têm de ser aptos a detectar outros, impedir que os
detectem, além de saber aproveitar e perceber variações no volume. A
única forma de ataque submarino é ofensiva, mas a presença dele em
águas nacionais é defensiva.
A relação entre a geração da manifestação e a percepção dela
condiciona o uso do sensor e define a sensibilidade que deve possuir.
O sensor situado no submarino percebe apenas a diferença entre um
sinal que o atinge e o sinal de mesma espécie reinante nele, emitido
pelo submarino.
O sinal recebido em sensor afastado do submarino, como o captado por
sonar rebocado, desfruta vantagem de acuidade sobre outros sonares do
rebocador porque não tem nenhum sinal interno. Possui também a
vantagem de ser situável em região favorável ao sinal que se deseja
interceptar, diversa da ocupada pelo submarino rebocador. A água afeta
o percurso e a atenuação das manifestações físicas, a ponto de escondê-
las. Há deformações menos efetivas que, sem ocultar os sinais, alteram
a medição deles em benefício da fonte, iludindo a localização dela.
Medindo dados instantâneos da água, o submarino sabe como os sinais
mudam e quais regiões vizinhas não podem percebê-lo numa ou em várias
das manifestações dele.
Pode encontrar regiões oceânicas onde a variação de temperatura com
profundidade cria dutos acústicos, permitindo propagação anormalmente
livre de perdas. Um sensor situado no duto percebe passiva ou
ativamente fontes situadas a centenas de milhas. Sonares rebocados
podem ser posicionados num duto, enquanto o submarino que o reboca
permanece escondido fora do duto, explorando vantagens dele sem se
oferecer nele. Detecta uma fonte móvel com prazo longo de aproximação,
suficiente para classificar precisamente a fonte, atacá-la ou esquivar-
se. É útil em todos os trânsitos sob grande velocidade, pois
possibilita esclarecimento amplo nas paradas de pesquisa. A modalidade
de sonar rebocado que forma antena emissora entre o extremo afastado
(“peixe”) e um trecho do cabo de reboque permite emissões de muito
baixa freqüência (o mesmo que de grande comprimento de onda)
perpendiculares à direção do cabo, esclarecendo enorme distância.
Emissão oriunda no rebocado pode iluminar uma região do mar sem situar
no rebocador a indiscrição da emissão (embora seja o melhor dado para
busca). Mostra a bordo o maior alcance ativo disponível, mede o poder
esclarecedor. Submarinos têm, na extensão total de cada bordo, antena
para muito baixa freqüência. São as de maior alcance passivo a bordo;
se fossem ativas constituiriam as indiscrições de maior volume do
submarino.
Sinais enviados sobre o submarino não serão refletidos na fonte ou não
o atingirão, caso o estado da água os desvie no percurso da incidência
ou da reflexão. Um mesmo estado pode esconder o submarino de um sensor
situado em nível acima do dele sem esconder do submarino a fonte do
sensor, pois o desvio de emissão descendente difere do desvio numa
ascendente. Quando o submarino recebe uma emissão, deve alterar seu
estado emissor naquele instante e mudar rápido para água de qualidade
diversa. Quanto mais profundo estiver, mais discreto está o submarino.
Sente mais, emite menos. A profundidade é particularmente útil para
longos trânsitos, permitindo maiores velocidades e menos numerosas
paradas para varredura, independentemente de usar o sonar rebocado.
Há submarinistas avessos ao sonar rebocado, cuja instalação eles
consideram nociva à manobra. Os melhores apuram a manobra com o sonar
disparado, para empregá-lo mais, exceto onde haja pouca profundidade.
Este sonar é uma unanimidade dos nucleares, os de ataque e os lança -
mísseis, também nos convencionais, onde tem a mesma utilidade de
esclarecer a grande distância.
Tanto a construção quanto a manutenção do submarino visam diminuir
sinais emitidos. Durante a construção, há na fixação de componentes
internos milhares de verificações de freqüência e amplitude
amortecidas mecanicamente. Caso reprovadas, acarretam remoção e nova
fixação, submetida a teste igual ao reprovador. Já construímos quatro
submarinos no Brasil sem que houvesse registro de reprovação em alguma
das fixações. Além de constituir registro para avaliações futuras,
evita dúvida no caso de o submarino inteiro ser reprovado na raia
acústica. Essa reprovação deriva mais da propulsão que de outras
partes. Eixo, mancais, telescópico, redutora e hélice são as mais
suspeitas fontes de ruído acima de limite contratual. Caso a
reprovação permaneça após correções indicadas, a área emissora do
ruído terá de ser refeita. Reconstruções são muito caras, desde apenas
um compartimento, que é a mais barata, passando por mancais, eixo,
lemes e hélice, mais caros, até o casco inteiro, o dobro do orçado. O
submarino possui equipamentos que medem a intensidade atual de cada
emissão, indicando o valor da discrição atual e a eventual necessidade
de correções. As intensidades dos sinais definem assinaturas
identificadoras do submarino.
Do mesmo modo como percebe sinais, ele é percebido quando os emite.
Perante um silêncio resultante de varredura sem emissão (passiva),
supõe que não há outro emitindo nas direções varridas. Para afirmar
que a ausência de emissão é devida à ausência de ofensores ou de
percursos ofensivos, terá de emitir seletivamente, sabendo quando a
falta de eco é devida à falta de refletor ou de percurso. Então, a
falta de reflexões permite emitir mais até garantir permissão de
gerar, livres de detecção, sinais em varreduras (ativas) ou devidos a
evoluções.
Sinais devidos a evoluções são cavitação no propulsor e variação no
aspecto emissor voltado para cada região, que o submarino tem
consciência de estar gerando. Seletivas ou não, emissões são
indiscrições; enquanto varreduras ativas não negarem outra presença. O
emissor delas corre risco de ser detectado, mas as usa. Peixes possuem
conjunto de sonares passivos e ativos. Usam seletivamente o conjunto
inteiro para obter alimento e para escapar de seus predadores até
chegar a hora em que a emissão do predador o localiza com alcance
inevitável, sem que emissões anteriores da vítima a houvessem
alertado. Os carnívoros detectam radiação do campo elétrico da presa,
submarinos ainda não fazem isso.
Evoluções dependem das assinaturas em presença de sensores situados
fora dos volumes indiscretos. A capacidade de evoluir fica ilimitada
se houver certeza da ausência de sensores. O submarino interrompe a
evolução e faz nova varredura quando a mudança de posição ou a
permanência no movimento torna viável o ingresso de sensor hostil no
volume indiscreto, ou para negar a presença de alto fundo ou de outro
submarino mais discreto, somente perceptível mediante reflexão. O
submarino pode mudar de posição mediante propulsão, corrente marinha
ou alteração propositada de flutuação. Pode mudar o avanço efetivo
mediante rumo ou velocidade variável ou fixar a posição mediante pouso
no fundo. Pode amiudar sua presença em certa região e deslocar-se
discretamente para outra região, tendo feito uma breve indiscrição em
cada, para produzir presença de dois submarinos. Breve indiscrição é a
que marca presença sem prover localização. Recebe e emite transmissões
acústicas em imersão, recebe e transmite emissões hertzianas por
antena exposta e recebe emissões por antena imersa. A exposição de
antena (o mesmo que uma emissão de sinal ótico) sucede à exposição
curta de antena que detecte emissões magnéticas, seguida por
vigilância ótica. Essa exposição pode ser percebida por satélites.
Qualquer emissão viola a essência discreta, permanece sem indiscrição
na ausência de sensores hostis. Único modo de confirmar essa ausência
é emitir discretamente tão logo concluída a seqüência iniciada por
varredura passiva. Caso não haja detecção com emissões instantâneas
unidirecionais, a área é cada vez mais segura. Ou seja, fazendo
esclarecimento arriscado. Se não o fizer, não obterá segurança. Caso
surja contato, o submarino efetua evasão e se restringe a esconder-se.
Não surgindo contatos, esse esclarecimento permite proclamar a
segurança da área naquele instante. Outros sinais óticos são
periscópios e sensores infravermelhos. 




Percebidos por radares, são
retirados assim que a antena do detector de radiações, situada logo
acima deles no mesmo mastro, recebe a emissão radar. Têm a vantagem de
nada emitir além da própria imagem, que é ao mesmo tempo uma agulha
perdida no oceano e um alvo radar gigantesco, caso o tamanho deles
seja maior que a discriminação daquela recepção radar. O uso deles
conta com a discrição do radar composta pela duração, pela direção e
pela intensidade do pulso. A presença de emissão radar descuidadamente
indiscreta, anunciada por características da varredura, proíbe de modo
quase terminante os sinais óticos. Se a duração deles for tão curta
que não gere coerência na tela de radar mais discreto, eles escapam da
proibição.
Durante muitas décadas, submarinos possuíam dois periscópios muito
diferentes em imagem, formato do mastro e conteira. Projetistas atuais
comentam a evolução sem denegrir a acuidade mental dos antecessores. O
arranjo antigo ficou descabido, mas o atual também seria perante
inovação. O hoje é a véspera do amanhã. Não há motivo para exibir mais
de um periscópio se a imagem de um é distribuída pelos postos do
quarto de serviço. Não há motivo para instalar um segundo periscópio
se a integridade do primeiro tiver permanência garantida contra danos
suportáveis pelo submarino. Caso cesse essa permanência, o submarino
passa a igualar outro que acaba de perceber radar isento de discrição.
O emprego de periscópio não penetrante no casco dotou de periscópio
eterno o submarinista, porque caso cesse a permanência do periscópio
em uso é acionada a troca dele pelo reserva, até então rebatido para
não partilhar nenhum dano ao efetivo. A configuração do periscópio tem
sensores na objetiva destinados a imagem visual carente de luz em grau
quase total, a imagem eletrônica, a imagem térmica e a imagem
introduzida no interior da manobra para exercício em imersão. Tem
retículo e estadímetro comutáveis. Digitalizadas, as imagens são
tratadas para restituição e distribuição. O Brasil não fabrica
periscópios porque nunca apoiou os ex-mestres enviados pela Marinha ao
exterior (EUA e Grã-Bretanha), não os apoiou quando a vendedora do
simulador criado por um deles interrompeu contrato com a MB. Até hoje
trata o assunto com a Kollmorgen via Comissão Naval Brasileira em
Washington (CNBW), acarretando acionamento pela Kollmorgen da
representante dela na América do Sul, a empresa do criador do
simulador. Neste ano será feita a primeira revisão geral em dois
periscópios por uma Organização Militar (OM), cujos funcionários
concluíram curso específico nos EUA. Caso a MB nada converse com os
franceses, os periscópios do nuclear e dos próximos serão franceses.
Submarinos imersos equipados com ejetor especial lançam e recolhem
bóias receptoras e retransmissoras (BR) cuja emissão se inicia após
intervalo seletivo para evitar a localização do lançador, permanecendo
com emissão durante período ajustável, para divulgar esclarecimento,
estas não recolhidas. A transmissão denuncia ocorrência anterior de
submarino na área sem dizer a localização atual dele, o instante do
lançamento nem o instante da gravação. Essas comunicações são
precárias e indiscretas, porém imprescindíveis; isto é, não são
opcionais no projeto devido a terem discrição à prova de satélite e
comunicarem dados úteis, algumas vezes únicos. O ejetor tanto lança BR
como outro objeto de igual tamanho. Até hoje a Força ignorou o ejetor
e as BR porque seguiu opinião do vendedor de submarinos (USN, UK
m.o.d. e HDW) e fingiu que não pensava. Era apenas a consultora por
excelência, de vez que decisões não pertenceram ao secretário-geral da
Marinha, ao diretor-geral do Material da Marinha, ao diretor-geral do
Pessoal da Marinha, ao comandante de Operações Navais, ao chefe do
Estado-Maior da Armada nem ao comandante da MB, mas ao Almirantado,
nenhum informado ou técnico.
A duração da imersão cresceu de um valor limitado pelo oxigênio
armazenado até valores de conveniência, aqueles suportáveis pelo
homem, sujeitos a repercussões psicológicas no desempenho. O ambiente
interno do submarino tem atmosfera programada em composição gasosa,
temperatura e umidade, e com nível cíclico de claridade (este com
propósito de regular sono, digestão, pressão arterial e atenção).
Concorrem para essa facilidade: o esnorquel que refresca a atmosfera
interior; produtos químicos que liberam oxigênio após aquecimento;
dessalinização osmótica, que faz água doce; e revitalização por
oxigênio puro acondicionado em ampolas. Nucleares produzem oxigênio a
partir de eletrólise especial que separa oxigênio e um composto de
hidrogênio, assim evitando manejo a bordo de hidrogênio elementar.
Nas imersões de curta duração (uns poucos dias), o tempo se destinava
a trabalho e descanso, regidos pelos quartos gerais de serviço, em
que, por falta de opções, nem todos descansavam ou trabalhavam
igualmente. Hoje, em imersões de 60 dias, há tripulantes sujeitos a
heterogênea distribuição de esforço nos diversos dias. O dia comporta
intervalos de trabalho em equipe ou isolado, para estudo, descanso e
lazer, este tornado mandatório pela longa privação da biosfera. O
lazer inclui exercício físico porque mantém desempenho e não causa
esforço mental.
Projetos concluídos em algum dos últimos 20 anos, já sob bem maiores
durações das imersões, reduziram o emprego de força física,
substituída por atuadores mecânicos acionados por programas de
computador. Seguem a modalidade “falha sob garantia”, além da
reiterada com “retroalimentação” e da segregada com “preferência”.
Tripulante vigia computadores executantes, controlados por
computadores supervisores, enquanto é vigiado por eles. Tripulações
são cada vez menos numerosas, passando a ênfase dos especialistas para
os operadores, muito mais intercambiáveis que aqueles.
Grupo em serviço no instante de alarme de ataque reage imediatamente
sem acionar postos especiais, cuja assunção ficou descabida por
exigüidade de tempo. Nenhum tripulante vai até um mostrador:
mostradores são mímicos para informarem à distância, estão na intranet
reiterada nos postos de serviço.
Há treino de fadiga e consciência sob excesso de CO2 e pressão
ambiente maior.
O submarino inicia a imersão o mais próximo possível do cais porque
imerso fica discreto, permanece escondido na patrulha e, nos trânsitos
de ida e retorno, emergindo somente próximo ao cais: há uma única
imersão, a que interrompe acompanhamento visual por outras nações. O
cais passou a ser eleito segundo conjunto de aptidões para discrição.
Qualquer exposição durante a imersão destrói a discrição, fornece
indicações do exposto e, por subtração, dos demais submarinos do mesmo
país.
Mergulhadores de combate e outras tropas embarcam e desembarcam em
imersão, por escotilha na vela. No convés junto à escotilha dispõem o
equipamento e a ocupação do veículo imerso e motorizado usado por
eles. Ainda imersos, percorrem a maior distância do submarino que
consigam, tanto para embarque como para desembarque. Preservam a
discrição por meio desse percurso. Inflam o bote motorizado e
prosseguem na superfície. O retorno é o inverso, podendo visar
encontro na superfície com mergulhador isolado, em vez do submarino.
Este mergulhador guia o grupo até o submarino na cota em que se
esconde.
Outras marinhas empregam minissubmarino transportado no convés a ré,
que conduz os oito mergulhadores de combate do pelotão. As duas
versões de desembarque e embarque chamadas “convés seco” e “convés
molhado” são improvisações militarmente condenáveis, de vez que feitas
em emersão. Submarino é para imersão, sucedeu aos submersíveis, hoje é
“emergível” próximo ao cais.
O submarino abriga, transporta, esconde e informa o submarinista. É
manejado, escondido e informado pelo submarinista.

Submarinista




Cada tripulante de um submarino está habituado a três raciocínios
opcionais: o estado do submarino naquele instante, as ações dele sobre
cada alvo e a fração da vida do tripulante que ocorre fora do
submarino. Ao pensar no estado, não pensa em ataque; ao pensar no
ataque, não pensa no estado. Somente pensa no que ocorre fora quando
não pensa no estado nem no ataque. É hábito consciente que realiza os
três inibindo quase inconscientemente os dois menos prementes a cada
instante.
Há pontos comuns na formação de cada tripulante, os referentes a
manobras e a emergências, desligados da qualificação anterior ao Curso
de Submarinos possuído por todos, porém ligados à qualificação
periódica do tripulante naquele submarino. A qualificação periódica é
obrigatória no submarino. Não indaga assuntos anteriores, apenas a
pergunta do qualificador ao qualificando sobre dado material à mão ou
à vista naquele instante. Garante aos outros tripulantes que o
qualificado possui reação reflexa correta e homogênea a fatos que
ocorram ali, normais ou anormais. O currículo do curso tem propósito
de aumentar a capacidade de intercambiar os tripulantes. Além desse
conhecimento repetido em todos, há aquele referente à fração material
do navio designada para cada tripulante. Isto tem evoluído de modo a
reduzir essa designação exclusiva.
Em vez de ferramental e técnico ociosos enquanto não há defeito (como
lecionado, previsto e praticado até recentemente), o material é
projetado para ostentar “tempo médio entre falhas” superior à duração
da patrulha e para permanecer útil após surgir falha, seja por
segregação, em que a função interrompida num componente passa a ser
feita por outro, seja “falha prevista” com degradação suportável, em
que o componente perde algum atributo sem comprometer a operação do
conjunto. Hoje, o projeto atende a redução de tripulação por extinção
de especialistas destinados a reparos a bordo, causa inclusões na
aptidão original do tripulante para assumir tarefas de operação dos
especialistas extintos. Projeto e quarto de serviço, controles e
indicadores são conjugados e sucessivos. Todos são operadores, movem
atuadores, nada consertam.
O estado do submarino em dado instante é composto pela tarefa que
estiver executando, pelo nível de segurança da área e pela
disponibilidade de energia. O nível de segurança comporta uma ou mais
manobras evasivas. Disponibilidade de energia tem amplitude sujeita à
soma de ampére/hora ainda nas baterias, massa de ar comprimido nos
grupos de ar, tanto para renovar atmosfera como para mover pistões
hidráulicos, e saldo de reagentes nos reservatórios para propulsão
independente da atmosfera. O submarinista não deixa a disponibilidade
cair a ponto de privá-lo.
Nenhum tripulante tem situação de passageiro nem trabalho fora de
equipe. Os raciocínios de cada um incluem saber qual parte preocupa
cada companheiro da equipe. Passageiros são tropas, agentes especiais
ou peritos transitórios de equipamentos. Recebem instrução e treino
mínimos, condizentes com os riscos que terão a bordo, podendo
permanecer acompanhados por tutor. São a versão mais aproximada do que
seria tripulante passageiro.
Todos os tripulantes têm alguma ocupação a cada instante, seja
guarnecendo algo, seja treinando, seja estudando, seja finalmente
descansando, pois foram treinados para saber que o descanso não é
opcional, mas ingrediente do trabalho em submarino. São treinados em
jornadas aumentadas de trabalho e em atmosfera inferior à ideal. Em
cada local, quem estiver aí, vigia, fiscaliza e sincroniza seu ato com
os dos presentes, pois os conhece. Compara a olhadela daquele instante
num mostrador com a imagem retida na memória desde a olhadela
anterior, tendo de reagir sem perda de tempo à variação identificada.
Outros presentes ali estão fazendo o mesmo; e, pelo treinamento
compartilhado, dirão, se for o caso, que demorou a reagir. O
treinamento dele visou a fazê-lo tripular em cruzeiro ou em ação,
significando participar da equipe. O treinamento da equipe visou levar
o submarino a executar tarefas do navio. Ambos os treinamentos visam
obter raciocínio sem emoção.
O processo mental, feito em três dimensões cartesianas, reflete
comandos em vigor, faz leitura, ampliação e análise de dados do espaço
obtidos por vigilância em cruzeiro. O processo mental em ataque a alvo
também reflete os comandos, agora por vigilância em ataque a alvo. O
processo mental sob ataque de outro também reflete comandos, agora por
vigilância sob ataque de outro. Em qualquer caso o tripulante vê
outros membros da equipe e os mostradores ao alcance dele, únicas
necessidades dele no exercício de sua tarefa. É visto igualmente, sabe
aptidões e preocupações dos demais.
Assim, quando o comandante está pensando no cruzeiro ou no ataque por
seu submarino, cada tripulante pensa com ele na medida em que divulgou
sua intenção. Todos percebem que o movimento atual visa ver sem ser
visto, esconder-se sem perder o alvo e atingir o alvo sem ser
alvejado.
Por essa razão, o chefe da equipe conserva e refresca a imagem das
propagações na água imediatamente em volta de seu volume indiscreto. É
o princípio tático da discrição, ligado à essência do submarino. Não
arrisca oferecer ao alvo um contato, para ter certeza da inadvertência
dele.
Busca ponto de disparo que consiga atingir o alvo de modo que nada o
advirta antes do impacto. Isto é o cerceamento tático, conveniente
para disparos posteriores.
Atingir o alvo revela presença na área, não impede evasão doutrinária
nem outras aproximações. Trocar por outra a área onde houve o último
ataque conserva a discrição, mas não dá a esclarecedores situados lá
sensação de abandono dela pelo submarino. É o princípio da decepção, o
mesmo que enganar, iludir. Enseja ao comandante buscar mais alvos,
atacar de novo ou, sempre evitando restringir opções de seu comandante
imediatamente superior, sair dessa área. Reforça a decepção ali ou a
realiza em nível acima, afetando análises adversárias sobre outros
submarinos do mesmo grupo. Comandante de submarino decide mais que os
de outras unidades.
O submarinista explora, conhece, protege, usa, esconde o submarino.
Aciona armas, máquinas, mecanismos e sensores dele.

Energia


Submarinos usam para tudo energia existente a bordo. Quando a
disponibilidade de energia diminui, o submarinista trata de repô-la, o
que implica indiscrição acústica, térmica e visual, caso esteja ligado
à atmosfera. A fonte da energia dos convencionais é o combustível do
motor a explosão, que aciona gerador elétrico para alimentar motor
elétrico de propulsão (MEP) ou para carregar baterias. Enquanto as
baterias puderem debitar corrente elétrica, motores de propulsão podem
movimentar o submarino em imersão discreta. Mantendo aberta uma tomada
de atmosfera, pouco aparente, mas perceptível, o submarino usa motores
a explosão e geradores para carregar baterias e acionar MEP. É
indiscrição, é emersão, mas é mais discreto que mostrar o casco e
repõe a energia das baterias que havia sido consumida. Esses motores a
explosão têm potência cada vez maior a fim de reduzir o tempo da
recarga. É preocupação principal do estado do submarino, um dos três
raciocínios opcionais do submarinista, porque o submarino durante
carga deixa de ser escondido, deixa de ser submarino. O convencional
realiza trânsito com taxa positiva de indiscrição, percentual do tempo
total de trânsito ocupado com carga. Maior velocidade em imersão
significa mais avanço e maior descarga das baterias, logo maior
freqüência de cargas, maior taxa de indiscrição. A descarga é mais
lenta com corrente menor, permite menor taxa de indiscrição, mas
atrasa o avanço.
Propulsão independente da atmosfera, seja por hidrogênio ou peróxido,
é menos potente, mas permite um arranjo de operação em que a carga das
baterias permanece intacta até o instante de maior consumo, resultando
em maior autonomia da imersão. É aumento condicional de autonomia,
somente aumenta na ausência de necessidade de imersão com potência
normal, pois sendo necessário debitar potência não há como aumentar a
reserva das baterias. O sistema de associar turbina a álcool e o de
reciclar os gases de descarga do motor a explosão são sistemas
melhores que os de hidrogênio e de peróxido porque têm maior autonomia
e são mais potentes que aqueles, mas igualmente menos potentes que as
baterias.
Então o submarino convencional cria preocupação perene na mente do
submarinista sobre quanto terá de arriscar-se durante recarga ou
quanto terá de renunciar da patrulha prevista.
Entre dois submarinos com mesma velocidade, o de forma mais
hidrodinâmica pode intitular “propulsão independente da
atmosfera” (AIP) o resto de carga nas baterias dele no instante em que
o menos hidrodinâmico esgota a carga. Ao comparar as tabelas de cada
um, que relacionam velocidade, número de rotações por minuto e
potência do MEP, fica destacado o mais hidrodinâmico.
Aliás, a melhor AIP não nuclear possível, pois não exige ingrediente
esgotável durante a patrulha nem obriga redução de potência. O
convencional sempre opera condicionado pela velocidade e pelo tempo
disponível. O consumo elétrico na propulsão cresce exponencialmente
com a velocidade. O tempo disponível aumenta em proporção à
velocidade. Convencionais são excelentes desde que tenham carga nas
baterias. São silenciosos a ponto de possuírem suficientes volumes
indiscretos. Ficam vulneráveis em longos trânsitos oceânicos, devido a
terem de recarregá-las. São totalmente satisfatórios para países
possuidores de longos litorais, portadores de muitos locais seguros,
onde não há longos trânsitos. Obrigados a cruzar oceanos, quando
recargas ruidosas são inevitáveis, um par deles resolve o problema, se
carregarem em horários diversos. O carregado cria santuário para o sob
carga.
Os projetos de casco, lemes e hélice poupam energia e causam
assinaturas tão discretas quanto possível.

Emprego



O Comando de Operações Navais não se satisfaz com as quantidades
correntes de tarefas desempenhadas por submarinos. Os existentes,
obtidos com prioridades duras, ficam escassos porque sujeitos a
interrupções do ciclo operativo, a avarias e à instrução de novos
submarinistas, restando para adestramento próprio e de outras unidades
pouquíssimos ou nenhum. A escassez é a norma também nas duas maiores
frotas de submarinos, a americana e a russa. Aqui, um a três seriam
empregados para o fim precípuo de patrulhar águas nacionais,
constituindo decepção logística: compramos a unidade, mas não dispomos
dela para uso imediato. Manutenção e treinamento cooperam para
subtrair do elenco unidades do ativo.
Apenas um a três submarinos em condição operativa é uma contradição em
termos, pois a manutenção de discrição imposta a esse conjunto é
recíproca e acentua a indisponibilidade nacional de submarinos. Além
de tudo, sabe do trânsito de ida e volta nas raras oportunidades em
que emprega o submarino.
Na mesma frustração, a Esquadra olha o submarino como consumidor
desbragado que não dá troco, consome combustível, água, berço,
fundeio, pessoal, verba e quotas de material. Cumpre encargos, mas a
Força de Submarinos nunca oferece submarino-dia, ela que é a mais
assídua empregadora. Mais assídua por mandar nele mais tempo que
outras. Ela própria se sente operando ou impedida conforme esteja ou
não movimentando submarinos. Treinamento de patrulha e de ação entre
submarinos requer presença do mínimo de dois submarinos ou produz dado
mundial do destreino dos daqui. Quando, por iniciativa da Força, ou da
jurisdição de algum material do submarino ou do submarinista, ocorre
aumento de disponibilidade, acontece um bônus logístico a que ninguém
abaixo do Comando de Operações dá atenção. A Força desempenha
jurisdição de material exclusivo de submarino, tem iniciativa de
pensar encargos de projeto, é consultora porque tem amplo acervo do
ramo e é peculiar ao submarinista a ansiedade de ver o material
multiplicar-se. Ela subordina a Escola, a Base e os navios.
Perante falta generalizada de tecnologia, a Força tem acanhamento de
aumentar o próprio tirocínio em submarinos mediante pesquisa interna.
É melhor fazer a pesquisa e repartir com convidados que deixá-la
parecer abuso sob escassez. Imagine se não surge um ar de que há
ladrão por perto quando recebe sondagem superior sobre que recursos
ela deseja para termos um submarino em exercício com unidades da MB,
outra força nacional ou marinhas estrangeiras.

Valeu pela leitura desta primeira parte, se gostou deixe a sua opniao atraves de um comentario.

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